Por: André Michel dos
Santos
A escola, como um dos
principais equipamentos sociais, tem sido desafiada cotidianamente em articular
o conhecimento que é trabalhado no contexto escolar com a realidade social do
aluno, ou seja, seus problemas e necessidades sociais. Neste sentido, se torna
essencial e fundamental que a escola comece a conhecer a realidade social dos
seus alunos, podendo também encurtar a distância que a separa do universo familiar.
Ela é a reprodução
social das classes, ou seja, é uma instituição onde se deve elaborar o
conhecimento e os valores sociais dos sujeitos. E, mais que isso, a escola deve
ser capaz de preparar os indivíduos para a vida em sociedade. Dá-se, nessa perspectiva,
a importância do trabalho com grupos de famílias no contexto escolar, a fim de
fortalecer e encaminhar para a sociedade, não somente as crianças e
adolescentes, como também seus pais.
Para que a escola
possa desempenhar o seu papel político, ela deve desenvolver o senso crítico do
aluno, precisando estar em sintonia não só com a realidade do aluno, como
também com a realidade da comunidade na qual ela se encontra inserida. Deve,
assim, respeitar a realidade social, cultural e econômica dos seus alunos e,
partindo dela, a iniciativa de propiciar a participação da família no processo
sócio pedagógico da escola.
Desta maneira, a
inserção do Serviço Social na escola, deve contribuir para com ações que tornem
a educação como uma prática de inclusão social, de formação da cidadania e
emancipação dos sujeitos sociais. Ambos, tanto a escola como o Serviço Social,
trabalham diretamente com a educação, com a consciência, com a oportunidade de
possibilitar as pessoas que se tornem conscientes e sujeitas de sua própria
história.
Amaro (1997) reflete
que Educadores e Assistentes Sociais compartilham desafios semelhantes, e tem
na escola como ponto de encontro para enfrentá-los. Tem-se a necessidade de
fazer algo em torno dos problemas sociais que repercutem e implicam de forma
negativa no desempenho do aluno e leva o educador pedagógico a recorrer ao
Assistente Social.
É importante
ressaltar que o profissional de Serviço Social, inserido na escola, não
desenvolve ações que substituem aquelas desempenhadas por profissionais
tradicionais da área de Educação. Sua contribuição se concretiza no sentido de
subsidiar, auxiliar a escola, e seus demais profissionais, no enfrentamento de
questões que integram a pauta da formação e do fazer profissional do Assistente
Social, sobre as quais, muitas vezes a escola não sabe como intervir.
O Serviço Social é
uma profissão que trabalha no sentido educativo de revolucionar consciências,
de proporcionar novas discussões, de trabalhar as relações interpessoais e
grupais. Assim, a intervenção do assistente social é uma atividade veiculadora
de informações, trabalhando em consciências, com a linguagem que é a relação
social (MARTINELLI, 1998), que estando frente às mudanças sociais, pode
desenvolver um trabalho de articulação e operacionalização, de interação de
equipe, de busca de estratégias de proposição e intervenção, resgatando-se a
visão de integralidade e coletividade humana e o real sentido da apreensão e
participação do saber, do conhecimento. Desta forma, pode-se afirmar:
O campo educacional
torna-se para o assistente social hoje não apenas um futuro campo de trabalho,
mas sim um componente concreto do seu trabalho em diferentes áreas de atuação
que precisa ser desvelado, visto que encerra a possibilidade de uma ampliação
teórica, política, instrumental da sua própria atuação profissional e de sua
vinculação às lutas sociais que expressam na esfera da cultura e do trabalho,
centrais nesta passagem de milênio (ALMEIDA, 2000, p.74).
Nesse sentido, a
contribuição que o Assistente Social tem a oferecer dá-se também na atuação em
equipes interdisciplinares, no âmbito das quais, os distintos saberes,
vinculados às distintas formações profissionais, possibilitam uma visão mais
ampliada, e compreensões mais consistentes em torno dos mesmos processos
sociais. Assim, o profissional do Serviço Social pode articular propostas de
ações efetivas, a partir do resgate da visão de integralidade humana e do real
significado histórico-social do conhecimento. Para Amaro (1997), a interdisciplinaridade,
no contexto escolar, representa estágios de superação do pensar fragmentado e
disciplinar, resultando-se na idéia de complementaridade recíproca entre as
áreas e seus respectivos saberes.
Sabe-se que, é no
interior da escola, no cotidiano dos alunos e de suas famílias, que se
configuram as diferentes expressões da questão social, como desemprego,
subemprego, trabalho infanto-juvenil, baixa renda, fome, desnutrição, problemas
de saúde, habitações inadequadas, drogas, pais negligentes, famílias multiproblemáticas,
violência doméstica, pobreza, desigualdade social, exclusão social, etc. As
demandas emergentes e resultantes da questão social é que justificam a inserção
do profissional do Serviço Social, que se insere neste espaço com o objetivo de
receber e encaminhar estas demandas. Neste sentido, Iamamoto (1998) afirma:
O desafio é
re-descobrir alternativas e possibilidades para o trabalho profissional no
cenário atual; traçar horizontes para a formulação de propostas que façam
frente à questão social e que sejam solidárias com o modo de vida daqueles que
a vivenciam, não só como vítimas, mas como sujeitos que lutam pela preservação
e conquista da sua vida, da sua humanidade. Essa discussão é parte dos rumos
perseguidos pelo trabalho profissional contemporâneo (IAMAMOTO, 1998, p.75).
De acordo com a
autora, o assistente social exerce, indiscutivelmente, funções
educativa-organizativas sobre as classes trabalhadoras. E, na escola, seu papel
não poderia ser diferente, pois seu trabalho incide sobre o modo de viver e de
pensar da comunidade escolar, a partir das situações vivenciadas em seu
cotidiano, justamente por seu caráter politico-educativo, trabalhando
diretamente com ideologia, e dialogando com a consciência dos seus usuários.
No livro “O Serviço
Social na Educação”, elaborado pelo Conselho Federal de Serviço Social, o CFESS
(2001), encontram-se dados estatísticos, os quais revelam que cerca de 36
milhões de pessoas vivem nas cidades abaixo da linha de pobreza absoluta, e que
o nosso país ocupa o último lugar nos relatórios da ONU, o qual enfoca a
questão social. Tudo isso, conseqüentemente, se reflete em uma quantia de
aproximadamente 60% de alunos, que em determinadas regiões do Brasil, iniciam
seus estudos e não chegam a concluir a 8ª série do ensino fundamental (CFESS,
2001, p.11).
Com a perspectiva de
incluir aqueles que se encontram em processo de exclusão social, a escola
possibilita aos seus alunos fazerem parte da sociedade em que vivem. A escola,
enquanto equipamento social, precisa estar atenta para as mais diferentes
formas de manifestação de exclusão social, incluindo-se desde questões que vão
de violência, atitudes discriminatórias, de etnia, do gênero, de sexo, de
classe social, etc., reprovações, até a evasão escolar, que muitas vezes é
provocada pela necessidade do aluno de trabalhar para contribuir na renda
familiar. E, é nesse contexto, que se apresenta o fracasso escolar, pois mais
do que nunca a escola atual tem o dever de estar alerta à realidade social do
aluno.
Segundo Almeida
(2000), as demandas provenientes do setor educacional, no que se refere a sua
ação ou ao fazer profissional do Serviço Social, recaem em diversas situações.
Tem-se assim necessidade do trabalho com crianças e adolescentes, através de
projetos como o Apoio Sócio-Educativo em Meio Aberto (ASEMA), como prevê o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990). Inclui-se, também neste
contexto a importância na participação das famílias, por meio do
desenvolvimento de ações, como trabalho de grupo e, muitas vezes, com os
próprios professores da Unidade de Ensino, podendo ainda promover reuniões
interdisciplinares para decisões e conhecimento a respeito de determinadas
problemáticas enfrentadas pela comunidade escolar. Isso tudo, sem deixar de
lado a ação junto ao campo educacional, mediada pelos programas e ações
assistenciais que tem marcado o trabalho dos profissionais do Serviço Social.
Ainda, conforme o
CFESS (2001), os problemas sociais a serem combatidos pelo assistente social na
área da educação são:
- Baixo rendimento
escolar;
- Evasão escolar;
- Desinteresse pelo
aprendizado;
- Problemas com
disciplina;
- Insubordinação a
qualquer limite ou regra escolar;
- Vulnerabilidade às
drogas;
- Atitudes e
comportamentos agressivos e violentos (CFESS, 2001, p.23).
Para Martins, os
objetivos da prática profissional do Serviço Social no setor educacional são:
- Contribuir para o
ingresso, regresso, permanência e sucesso da criança e adolescente na escola;
- Favorecer a relação
famíla-escola-comunidade ampliando o espaço de participação destas na escola,
incluindo a mesma no processo educativo;
- Ampliar a visão
social dos sujeitos envolvidos com a educação, decodificando as questões
sociais;
- Proporcionar
articulação entre educação e as demais políticas sociais e organizações do
terceiro setor, estabelecendo parcerias, facilitando o acesso da comunidade
escolar aos seus direitos (MARTINS, 1999, p.60).
É de extrema
importância que o profissional do Serviço Social, inserido na escola, saiba
trabalhar com programas visando à prevenção e não dispender o seu tempo
meramente com a efervescência dos problemas sociais. Na escola, o assistente
social deve ser o profissional que precisa se preocupar em promover o encontro
da educação com a realidade social do aluno, da família e da comunidade, a qual
ele esteja inserido.
Acredita-se que uma
das maiores contribuições que o Serviço Social pode fazer na área educacional é
a aproximação da família no contexto escolar. É intervindo na família, através
de ações ou de trabalhos de grupo com os pais, que se mostra à importância da
relação escola-aluno-família. O assistente social poderá diagnosticar os
fatores sociais, culturais e econômicos que determinam a problemática social no
campo educacional e, conseqüentemente, trabalhar com um método preventivo
destes, no intuito de evitar que o ciclo se repita novamente.
O assistente social
deverá trabalhar com ações educativas e não só com soluções de problemas,
entendendo que a educação se constitui em uma política social que tem como
compromisso garantir os direitos sociais, conseqüentemente podendo apresentar
uma ampliação do conceito de educação impregnado na sociedade atual. Desta
maneira, a prática do Serviço Social na escola se concretiza nas seguintes
atribuições:
- Melhorar as
condições de vida e sobrevivência das famílias e alunos;
- Favorecer a
abertura de canais de interferência dos sujeitos nos processos decisórios da
escola (os conselhos de classe);
- Ampliar o acervo de
informações e conhecimentos, a cerca do social na comunidade escolar;
- Estimular a
vivência e o aprendizado do processo democrático no interior da escola e com a
comunidade;
- Fortalecer as ações
coletivas;
- Efetivar pesquisas
que possam contribuir com a análise da realidade social dos alunos e de suas
famílias;
- Maximizar a
utilização dos recursos da comunidade;
- Contribuir com a
formação profissional de novos assistentes sociais, disponibilizando campo de
estágio adequado às novas exigências do perfil profissional (MARTINS, 1999,
p.70).
O Serviço Social
Escolar se apresenta com o objetivo de poder contribuir com a problemática
social que é perpassada no cotidiano da comunidade escolar –alunos,
professores, pais – seja com encaminhamentos, orientações, informações,
projetos de cunho educativo, que possam promover a cidadania, ações e projetos
voltados para as famílias, etc. Desse modo, entende-se que para atingir a
criança e o adolescente de forma integral, é necessário intervenções no
contexto familiar, seja em âmbito sócio-educativo, como também de momentos de
ensino-aprendizagem e reflexão, em um viés de participação, autonomia e
cidadania.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Ney Luiz
Teixeira. O Serviço Social na educação. In: Revista Inscrita, nº 6. Brasília, 2000.
AMARO, Sarita Teresinha
Alves. Serviço Social
na escola: o encontro da realidade com a educação. Porto
Alegre: Sagra Luzzatto, 1997.
BRASIL. Lei 8.069/90.
Estatuto da Criança e
do Adolescente. ECA. Porto Alegre: CRESS, 2000.
CFESS. Serviço Social na Educação.
Grupo de estudos sobre o Serviço Social na Educação. Brasília: 2001.
IAMAMOTO, Marilda
Vilela. O Serviço
Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional.
7. ed. São Paulo: Cortez, 1998.
MARTINS, Eliana
Bolorino Canteiro. O Serviço Social na área da Educação. In: Revista Serviço Social &
Realidade. V 8 Nº 1. UNESP, Franca: São Paulo, 1999.
MARTINELLI, Maria
Lúcia. O Serviço Social na transição para o próximo milênio: desafios e
perspectivas. In: Serviço
Social & Sociedade, nº 57. São Paulo: Cortez, 1998.
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Bacharel em Serviço Social pelo Centro Universitário Franciscano, UNIFRA (2005). Pós-Graduando em Gestão Educacional pela Universidade Federal de Santa Maria, UFSM (2007). Assistente Social da Rede Marista de Educação e Solidariedade do Rio Grande do Sul.
Bacharel em Serviço Social pelo Centro Universitário Franciscano, UNIFRA (2005). Pós-Graduando em Gestão Educacional pela Universidade Federal de Santa Maria, UFSM (2007). Assistente Social da Rede Marista de Educação e Solidariedade do Rio Grande do Sul.
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